Turminha adolescente: rapazes e garotas nascidos e criados em um bairro popular.
Roupas simples, gosto musical semelhante, gírias e gestos comuns entre todos.
Certo dia, a mãe de uma das garotas conseguiu, através de uma prima, um emprego para a filha na região da Avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo.
Em poucos meses a garota se tornou diferente da turma.
Falava o português corretamente, comentava que no horário de almoço adorava passar alguns minutos em uma enorme livraria e seu visual foi ficando mais bem cuidado.
Nos finais de semana já não se contentava com passeios na lanchonete do bairro ou na sorveteria da região.
Começou a fazer um cusro aos sábados, conheceu um pessoal diferente e passou a frequentar exposições, teatros, cinema e lugares muito distantes da realidade dos amigos de infância.
Foi rejeitada pela maioria que a classificava como esnobe quando queria convencê-los a ir no MASP ou na Pinacoteca.
Alguns anos se passaram, os amigos ficaram distantes e só lhe restou a vizinha de parede.
Ela está terminando a faculdade, subiu de cargo na empresa e lamenta que a maioria dos amigos está limitada a uma vida pequena, sem grandes horizontes ou desejos.
Só uma dúvida ainda paira sua cabeça:
O que os amigos queriam?
Que ela perpetuasse a dura vida dos pais que estudaram pouco, trabalharam muito e atingiram a maturidade sem conseguir melhorias financeiras?
Será que os amigos queriam que ela continuasse sentada na calçada, batendo papo furado e contando os trocados para o sanduíche?
Isso pode ser bom por um breve período mas as pessoas tem o direito de querer uma vida melhor, mesmo que sua origem seja humilde.
Pensou, pensou e concluiu que amiga mesmo é a vizinha de parede que até se espelhou em seu exemplo e começou a agir por um futuro melhor.
2 comentários:
Muitas vezes nem precisa ser no interior do estado. Em Anhangabaú tive oportunidade de conhecer amigos de parentes, íamos em grupo para as festinhas, boates, bares.... éramos amigos apenas "de copo", amizade superficiais.... um de nós resolveu se expandir os limites em que estávamos, teve contatos para o exterior e foi estudar e trabalhar fora. Seu nível cultural aumentou e partiu para novos horizontes. Voltou para o Brasil trabalhando numa empresa multinacional representando o Brasil como tradutora, interprete e ponte para o Brasil/exterior. Foi evoluindo de tal forma que nós mesmo, estacionado na mesmice, fomos criando um abismo entre nós... e não ela.
Este abismo fica ainda maior quando a pessoa, como vc citou no comentário, vai para fora do país e volta com outra mentalidade e outro tipo de vivência.
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